Na Piazza de La Republica, entre a segunda e a terceira hora da madrugada, bebado e perdido, me entregava a devaneios, "flanerizando" pela suposta cidade eterna.
Próximo a esquina com a Via Nazionale, uma menina de uns vinte anos caminha em minha direção.
Linda, faz-me perceber seu rebolado e seus olhos verdes entreabertos e seu olhar profundo surgindo pelas mechas lisas de sua franja espessa, como se fosse atravessar meu crânio.
Penso essa mulher te quer Pedro, ela sabe da luz, ela não resiste a sua espontaneidade ao caminhar e ao gesticular e ao tragar o seu cigarro.
Simplesmente me para, com a mão espalmada sobre o meu peito, e resmunga algumas palavras imcomprensíveis.
Pedi que ela repetísse, dessa vez devagar e em alguma outra flor do lazio que não romeno.
Ela parecia muito disposta com sua mão passeando pelos meus ombros e tal, e eu esperando algo como "nunca vi olhos como os seus" ou qualquer outra coisa que desse colo aos meus complexos. Mas sua aparente disposição não melhorava sua dicção.
Cansei e resolvi ser direto, com um pequeno sorriso no canto esquerdo da boca apertando a bochecha, e perguntei o que ela procurava.
Sete horas da manhã e meu irmão sobe pra fazer a rotininha matinal – um copo de café na mão, um pão na outra. Vai para o terraço, toma o café e come o pão olhando o sol já nascido. Volta pra sala, senta no computador e lê jornais e checa e-mails. Foi nessa segunda parte que ele escutou um ronco gravíssimo e cavernoso vindo de algum lugar. Levantou da cadeira e caminhou em direção ao lavabo, aparentemente de onde nasciam tão guturais e ásperos ruídos.
Lá chegando, deparou-se com seu irmão mais velho, Pedro, sentado numa cadeirinha de criança pintada com bichinhos simpáticos, abraçado ao vaso, um cigarro que aparentemente apagou sozinho ao chegar no filtro na mão direita e a cabeça recostada sobre a borda da privada. O cheiro ácido tomava o ambiente e uma fina linha de baba ligava a boca aos conteúdos estomacais que navegavam pela água.
Depois de gargalhar por alguns minutos, me carregou até o sofá, tirou meus tênis e me cobriu.
Hoje, quando ele e minha mãe me contavam sobre a proeza, perguntei a ele se achara a “cena” degradante.
Com o olhar sério e a mão direita encostada no meu rosto, ele me responde: